Ao contrário do filme de Lufe Bollini (Os Boçais), Oxicianureto de Mercúrio convida o público a participar da trama e se envolver com os personagens desde os primeiros minutos. A fotografia, os personagens, a história, o narrador, tudo nos atrai!
O narrador, aliás, tem função exemplar dentro da trama, sempre trazendo elementos externos (não tão externos assim) para ajudar a contar a história. Me fez lembrar o tom um tanto capcioso de coisas como em Amèlie Poulain (Jean-Pierre Jeunet, 2001) ou Dogville (Lars Von Trier, 2003). Em ambos os casos, o narrador tinha papel quase de coadjuvante, a consciência da história, onipresente, aquele que tudo sabe e tudo vê. Este aspecto do roteiro é outro ponto que se soma à tentativa de envolver o público – é quase como se uma Tia Gladys (retratada no documentário homônimo de Marina Pessanha) contasse uma daquelas histórias de bichinhos.
Tenho a tendência a achar que absolutamente nada em um filme foi por acaso. A começar pelo nome do personagem: Amâncio. Tenho a sensação imediata de um homem pacífico, talvez um personagem de Clarice Lispector. Daqueles que a gente fica observando numa tarde chuvosa, com um jornal na cabeça, um terno marrom e sapatos muito bem lustrados.
Por fim – mas não que esteja se esgotando o que tenho a dizer sobre o filme – outra questão interessante é o casamento com filmes antigos. É extremamente cativante ver o médico contar as histórias, deu vontade de ter um cara assim no Programa de Saúde da Família. Para entreter as crianças! Uma escolha muito feliz do diretor, num filme repleto delas.
Lívia Maia
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