sexta-feira, 31 de outubro de 2008

LÚMEN, de Willian Salvador

Todo criador é passível de instantes de desespero por uma possível ausência de idéia e genialidade. É sob essa afirmação que Lúmen, curta metragem do estreante Willian Salvador pode ser norteado. O filme, feito em stop-motion, conduz a visualização do processo de criação, através de um personagem que tem o corpo construído de ferramentas e uma cabeça de lâmpada, a melhor forma de simbolizar as idéias. Mas são justamente essas que parecem carecer ou se confundirem na cabeça deste idealizador. Sentado em uma mesa de madeira e debruçado sobre o papel branco, é tomado da expectativa de surgir a qualquer momento uma idéia incandescente. Mas tudo parece falhar, visto as inúmeras folhas de papéis amassados inertes próximas ao lixo que deveria recolhê-las automaticamente – e que, como a cabeça do inventor, não funciona tão bem. De repente, após observar quadros que sugerem as invenções humanas, as artísticas, as religiosas, o inventor, acumulado de inspirações, encontra a solução para sua falta de idéias: troca sua própria cabeça.

A lâmpada nova o faz novamente tentar criar. Assim o filme propõe que as inspirações e a ousadia de pensar idéias novas são o início de todas as invenções da humanidade. As moscas que insistentemente rodeavam a cabeça do inventor são as perturbações cotidianas, o caos exterior que frustra e leva o personagem à atitude fatal e pessimista do artista, a destruição das próprias idéias. Utilizando a tríade comum das narrativas de começo, meio e fim, e sustentado pela leveza com que as emoções humanas são condicionadas pelos filmes feitos em animação, o curta consegue sutilmente mexer com o profundo desespero da fluidez criativa.

Carolina Alzei

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