sexta-feira, 31 de outubro de 2008

NECESSIDADE, de Igor Souto

Necessidade se inicia com um personagem abrindo uma porta e ingressando em um ambiente pouco iluminado. Tal fato introduz o espectador a um universo amplo de interpretação e alternativas a fim de compreender a trama que se estabelece. Estes horizontes ainda se ampliam quando flagramos o personagem em um conflito intenso e vigoroso, como se estivesse perdido em um labirinto. A pouca iluminação e a situação do eu interior do personagem estabelecem um dialogo entre si e transmitem com clareza a mensagem conflituosa.

A aproximação do plano de gravação, a respiração ofegante, os vários filtros de cigarros no cinzeiro e os inúmeros rascunhos amassados e jogados fora contagiam o espectador, que passa a vivenciar aquela situação. No entanto, ainda não se sabe ao certo o motivo para tal estado emocional.

De repente uma “solução” parece ter sido encontrada: um misterioso “um metro e setenta e cinco” escrito numa folha de papel. E com o foco no anúncio de jornal, o espectador começa a ser direcionado a identificar o motivo de tal conflito. Ao destacar a unha vermelha e a transformação do personagem em Paloma, passamos a visualizar a trama sobre um prisma mais específico. Nele o personagem luta o tempo todo contra valores sócio-culturais e seus próprios preconceitos a fim de se libertar para viver suas vontades.

O quebrar do copo simboliza a ruptura do personagem com tais valores, assumindo uma identidade que lhe confere certo alívio e liberdade para viver aquilo que realmente lhe causa prazer. Ao optar por um ator do sexo masculino podemos ainda entender que, para o diretor, estes apresentam maior dificuldade em romper com os parâmetros estipulados pela sociedade.

Ainda sob uma visão geral da sociedade, entendemos que nós somos submetidos a uma uniformização inconsciente, na qual o diferente é dito como errado. Assim, recorremos à criação de personagens dentro de nós mesmos que possibilitem o gozo de nossas vontades. E é sobre isso que Necessidade quer nos alertar.

Bruno Costa da Silva Coelho

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