Percebo com estranhamento o conceito que construímos em torno da palavra “solidão”. E o curta de Adriana Barata levou-me a refletir sobre esse estranhamento. Encontrei-me com um universo cheio. Encontrei-me com mensagens que se colocavam por si sós. Uma fazenda adormecida nos braços do tempo; personagens pertencentes a um mundo a muitos de nós inacessível, onde os animais são parte da trama, do tecer da vida.
O documentário acompanha o fluir do dia e muitas de suas tomadas fruem as passagens vagarosas e quentes do ambiente vivo. O silêncio compõe sinestesicamente a textura palha da fazenda e de seus viventes. Nos sorrisos, nos olhos distraídos, nos movimentos soltos, a sensação não é de solidão, apesar da tentativa de se explorar essa idéia, de certa forma já estereotipada na imagem do campo.
Na verdade, muito além da solidão, outras questões pungem no retrato de existências tão intensas. Uma intensidade incompreendida no nosso repertório urbano e imagético, abarrotado de informações e ritmos que nos encaminham para uma insensibilidade tácita. Uma narração ao fundo do documentário retrata bem esse descompasso entre a dimensão do oceano simbólico (a fazenda do Cedro) e o direcionamento que o olhar da diretora tomou em certos momentos.
Fui retirada do leito do documentário e me vi mais sedenta, tomada pelo desejo de mergulhar verdadeiramente na beleza dos temas que não foram decifrados. No entanto, percebo neste momento que talvez eles não precisassem mesmo ser decifrados. E aqui cruzo com a beleza do documentário. É preciso que se diga que as coisas vivem e se comunicam todo o tempo, não conosco, mas para si, para o universo. Quando, mesmo que momentos imateriais, nos aproximamos dessas mensagens, chegamos à compreensão da ignorância com a qual travamos desde sempre intermináveis batalhas.
Raquel Lara Rezende
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Um comentário:
Adoraria vê-lo!
Sobretudo por conhecer
a Adriana Barata.
Há um tempo afastadas,
não sabia que ela
estava tão envolvida
com cinema...
Uma boa surpresa!
Um beijo,
doce de lira
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